O CEFISMA e o Coletivo Negro Sônia Guimaraes vem, por meio desta nota, formalizar o apoio a bacharelanda e divulgadora científica, Ana Clara de Paula Moreria conhecida nas redes sociais como @a_pleiade, visto aos ataques racistas e misógenos que vem aparecendo após a repercução de uma postagem de cunho racista de um conhecido divulgador ciêntico nas redes sociais. A onda de ódio repercutiu na bolha reacionária e gerou uma série de posts, vídeos e comentários que tiveram Ana como alvo após ela se colocar disponível para um debate sobre representatividade nas ciências exatas.
O dito “divulgador científico” iniciou toda essa onda de ataques após a agência aeroespacial brasileira divulgar uma imagem de uma astronauta negra no post de celebração de 61 anos da primeira mulher, Valentina Tereshkoka, a viajar para o espaço. Ora, a mera figura de uma mulher negra astronauta parece ter gerado um violento gatilho que se manifestou em sua postagem sem mesmo ter parado para a ler a legenda da imagem. Posteriormente a isso, ele se diz vítima de ataques e equipara seus críticos a terraplanistas, insistindo em não realizar autocrítica sobre seus atos.
Essa lamentável situação ressalta a necessidade urgente de discutirmos o racismo estrutural presente na ciência e na sociedade como um todo. Por mais que a caricatura de terraplanismo seja a forma mais comum de apresentar a falta de rigor científico, isso não se aplica apenas aos conceitos de ciências exatas. O terraplanismo, como metodologia, está presente também em ciências humanas. Se esse divulgador diz, realmente, respeitar a ciência sugerimos que compreenda o básico da metodologia científica moderna e saia do positivismo rasteiro de manual do século XIX, especialmente quando se trata de ciências sociais, mas não só, visto que as ciências sempre foram politicamente e socialmente determinadas. Não há vácuo político e nem neutralidade científica.
Para falar um pouco sobre racismo estrutural e sua face na ciência basta olhar para a estatística que rege os docentes da Universidade de São Paulo (USP): temos 5.151 ativos e, no que tange à autodeclaração de raça/cor, 4.699 (91,23%) se autodeclaram brancos, e 37,49% mulheres. A situação no Instituto de Física da USP consegue ser pior, visto que entre 115 docentes apenas 23,48% se declara como mulher e 2,61% se declara como negro (sim, apenas homens). Diante disso, negar o racismo estrutural em nossa sociedade é sim um tipo de terraplanismo. O racismo não é um mero julgamento moral e já sabemos disso há um tempo.
Quem está pagando por isso, mais uma vez, é uma mulher negra que se colocou disposta a realizar o debate. Convidamos todes estudantes, simpatizantes, funcionáries e docentes a se colocarem em defesa dos nossos. Manifestações racistas e misóginas não passarão despercebidas!
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