A pouco tempo passamos pela reforma do ensino médio financiada por grandes corporações filantrópicas de grandes capitalistas, imposta de forma inconstitucional sem apoio popular ou discussão democrática, seguida por um imenso corte no financiamento na educação e uma grande explosão de parcerias público privadas com empresas que financiaram a reforma para fornecimento de materiais digitais e equipamentos para as escolas públicas. E agora enfrentamos o efeito desta reforma neoliberal no ensino.
No Estado de São Paulo a aplicação desta reforma está sendo brutal, o governador e o secretário de educação estão aplicando ditadorialmente diversas práticas de controle, ameaças e opressão para destruir sistemáticaticamente a liberdade coletiva e individual na escola, transformando-as em verdadeiras prisões ou fábricas de destruição do espírito humano. Os professores e a diretoria são constantemente assediados e ameaçados pelo sistema através de demissões, realocamentos de escola ou fiscalizações surpresas da diretoria regional de ensino, que por sua vez é ameaçada pela secretaria estadual de educação. Ou seja, o ensino atual é feito através de uma série de ameaças para que se siga rigorosamente a proposta neoliberal imposta. Para compreender melhor como esta imposição está sendo realizada precisamos olhar os mecanismos de controle que o estado está utilizando para fiscalizar a prática do professor dentro de sala de aula.
As principais armas de fiscalização que o estado está utilizando são as plataformas digitais e o provão paulista. Através dos resultados nestes testes são realizadas punições à escola ou ao professor. As plataformas digitais são acessadas através da “ sala do futuro” onde os alunos conseguem ter acesso às atividades digitais, entre estas atividades estão mega resumos de conteúdos, slides, questionários básicos, atividades simplificadas, cursos online de variados conteúdos, desde os científicos e formativos padrão do currículo escolar, matemática, português, geografia, física, etc, e as matérias viculadas com a nova tendência steam da educação recheadas do discurso tosco da “ cultura maker”. O provão paulista é uma prova bimestral avaliando linguagens, matemática, ciências naturais e humanas com resultado disponibilizado para acesso livre de todos envolvidos na coordenação do ensino.
Através dos resultados destas duas atividades os estado controla e fiscaliza o ensino, através das plataformas digitais a secretaria consegue monitorar se o professor está aplicando o conteúdo exigido, no dia exigido e da forma exigida, realizando o uso do material imposto pela secretaria e se os alunos estão de fato acessando e preenchendo as atividades, com o provão paulista a secretaria consegue fiscalizar se o professor seguiu a risca cada uma das aulas préviamente planejadas e imposta para ele ministrar, controlar o currículo e sequência didática a ser seguida ao mesmo tempo que impede a liberdade individual de cada escola e professor de montar seu curriculo.Este controle é feito através de sanções disciplinares, advertencias ou demissões para os professores que não fizerem a risca que os alunos cumpram as atividades impostas ou, dependendo do resultado, uma sanção aplicada diretamente a escola.
Estas prátcas ferem diretamente a LDB, que garantem que a organização do ensino deve ser democrática, a liberdade de escolha do material pedagógico de cada escola e a liberdade individual de cada professor para construir sua aula. Se apropirando de uma visão Freiriana, o que estamos assistindo no ensino é a mais brutal inserção da prática bancária de ensino que destrói o caráter humano, sua paixão, seu corpo e seu espírito para transformar o aluno em um mero recipiente de conteúdo regurgitado pelo professor ,ou no caso, pelas plataformas, já que o professor foi posto em um espaço de mero fiscal de plataformas digitais, sem capacidade de se crítico em seu mundo.
Somada a toda esta prática necrófaga, que aplaude a morte do caráter humano, temos em curso a uberaziação no ensino através de bonificações para a escola e ao professor que consegue fazer com que seus alunos preencham todas as plataformas e acertem as questões no provão paulista, ou seja, se você obedecer solenemente as intruções você recebe um biscoito, caso contrário será rechassado e cassado.
A educação neolilberal na qual o ensino público está mergulhado ataca toda o sociedade da forma mais vil, cruel e necrófaga que existe, retirando de toda uma classe de educadores e educandos a sua capacidade de ser crítico e comunitário, individualiza os problemas, pune os considerados incorretos e comemora a morte da criticidade, da vida, da liberdade e do pensar para se criar uma comunidade vazia de sentido, significado, ciência e de crítica, formam seres que saberão apenas consumir e nunca refletir alimentando a indústria de destruição capitalista que estamos vivendo.
Texto de opinião escrito pela Dália, estudante de licenciatura em física.