Coletânea de Artes – Julho 2025

The Years
Triz Persoli

I would like to think my heart aches
For the poor ones that are so alone,
Whose frightening feelings of lonely sadness
Have, may, might, will certainly come.

You’ve loved me desperately so.
Even if the greatest indifference,
Were, upon us, wickedly bestowed
And I were to Orlando became;

Through three hundred years of solitude,
Your once undying love would be enough
To endure the hours that fill the mundane,
For you have loved me desperately so.


Âmago
Márcio B.

Ó minha grande e esbelta perfeição,
Mais cortejada que a vulgaridade,
Venho nessa duvidosa canção
Expor partes de sua crueldade.

Devaneando preso nessa cela,
Correntes amarradas em meus pulsos,
As nascentes em sua mão tão bela
Pondero se meus protestos são justos.

Tu me bates até me arrancar o couro,
Roubas de meu corpo as piruetas
Contente, você me jogou no estouro.

Mesmo condenando-me a ter venetas,
Paro minha difamação e lhe dou ouro.
Meu alumbramento são suas estrelas.


Responda, leitor, responda!
Hairu

Diga-me, leitor, o que é estar vivo?
É acordar com o desgosto da rotina,
Antes de banhar-se com a falsidade,
E de desjejuar-se com a fome.

Esse dejavu não é ilusório,
É um sintoma dessa enfermidade.
É por repetir o óbito diário,
Na fé de um dia diferente.

Estar vivo é sobre tal,
Sobre vestir-se com a pele falsa.
Falsa, mas saudável e bonita,
Aquilo que todos são, mas ninguém é.

Quer estar vivo, leitor?
Sempre esteve, nunca percebeu.
O estar verdadeiro é o que queremos,
Mas a esperança de estar nunca existiu.


Jeanne Dielman
Maria Dressano

Jeanne Dielman olhava convictamente para baixo quando entrei no cômodo, parecia que já estava nessa mesma posição há muito tempo, uma curva grosseira tinha se instalado em seu pescoço.


Não reparou em minha entrada e concluí que também não se importaria com a minha saída. Sentei sutilmente na cadeira ao lado da mesa onde Jeanne preparava metodicamente a massa de uma torta de carne, não era permitido olhar para os lados ou emitir qualquer som. Se tornou a máquina que foi criada para ser. Meu coração batia tão escandalosamente alto que senti vergonha por quebrar o silêncio sepulcral sentido no ar frio da casa. Casa essa que exigia um comportamento milimetricamente medido a quem entrasse, padronizando a espontaneidade e tornando a língua pesada: não fale.
Vislumbrei de relance seus olhos, escuros e sólidos, apenas por um segundo antes que saísse da cozinha com passos firmes. A segui timidamente.

Me dê a oportunidade de olhar para você.- Uma única fala custou-me o fôlego.
Nos sentamos na sala, a 5 metros de distância, pareciam 5 quilômetros, não conseguia enxergar com clareza suas feições de onde estava, ela permanecia mirando o tapete, custava-lhe muito ficar parada no ócio da tarde que se prolongava além da ampla janela em suas costas.


Seu vazio não era uma consequência da vida que viveu, era simplesmente sua essência. Possuía um consciente tão limitado que não lhe permitia ser triste, não lhe dava espaço sequer a melancolia ou a solidão, num espaço tão pequeno sua própria forma bastava.


Algo a incentivou a levantar a cabeça, olhou para mim como se me percebesse naquele momento. Conversamos a tarde toda sem pronunciar sequer uma palavra. Não nos compreendíamos, mas compreensão nunca foi necessária, estávamos comprovando nossas existências pelo simples fato de nos abrirmos a visão da outra. Tudo era visto, os traços mais simples e comuns eram notados, vi a cor vermelha de seus cabelos mudarem com o escurecer e as poucas vezes que piscava os cílios curtos. Sua figura emanava desinteresse. Ninguém jamais pararia apenas para olhar seu rosto e isso era o que instigava uma ingênua curiosidade em meu peito.


Uma ausência de ser nunca me foi tão tentadora, Jeanne Dielman não tinha nada, é só o que ressalta aos olhos e isso é tudo que nunca conseguirei.


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