Agostina: sucesso e fracasso

Este ano tivemos uma Agostina histórica. Muito disso se deve à comunidade do IFUSP, por isso o CEFISMA agradece imensamente pelo engajamento nos posts, pelos produtos comprados, pelos amigos trazidos e, principalmente, pela presença no espaço e pelo trabalho realizado. Mais do que um evento social e cultural, a Agostina também afirma politicamente o espaço do IFUSP. A universidade não deve ser apenas um local de trabalho e estudo, mas um lugar de construção, acolhimento, desenvolvimento social e lazer. O espaço universitário não existe apenas para formar trabalhadores e produzir ciência: ele serve também para desenvolver nossas capacidades físicas e mentais, para discutir a sociedade e atuar em sua transformação. Essa festa marca um espaço de construção da identidade do estudante de física na USP. Dito isso, o balanço sobre este evento não deve ser apenas em termos financeiros, mas sobretudo pelo ganho social e político de todo o processo. Podemos afirmar, sem dúvidas, que a Agostina foi um sucesso.

No ano passado, nós tivemos a Setembrina. O adiamento dessa festa possui os mesmos motivos que dificultaram sua edição esse ano e eu cheguei a escrever sobre isso. Infelizmente, não consegui publicar no boletim da época, mas essa é uma ótima oportunidade para revisitá-lo. Seu título seria: “Setembrina: precisamos falar do elefante na sala” e a introdução explica essa dificuldade:

“No dia 20 de setembro de 2024 aconteceu a Setembrina no IFUSP. A data foi resultado do adiamento da festa de agosto para setembro, motivado pela falta de capital de giro para realizá-la.

Precisamos de cerca de R$17.000,00 para organizar a Agostina e grande parte desses gastos — mais da metade — é o que chamamos de ‘morto’. O morto é o dinheiro que precisamos gastar e que não gera retorno financeiro: seguranças, ambulância, banheiros químicos, grades etc. Sabemos da importância da segurança para manter a ordem, mas, diferentemente de uma pizza vendida, esse gasto não volta para o caixa.”

A Setembrina aconteceu graças a uma campanha de financiamento coletivo junto às entidades e professores. O HackerSpace merece destaque, pois centralizou a arrecadação estudantil. Essa saída foi necessária, visto que a diretoria não apoiou financeiramente o evento, diferentemente de 2023. Os argumentos burocráticos para esse abandono foram vários e parecem verídicos, mas é notável a má vontade em buscar alternativas. A partir de agora, só teremos financiamento da diretoria se entregarmos o planejamento com um ano de antecedência. Enfim, vamos aos números:

“Ao todo, gastamos R$16.703,13 com a Setembrina, desses gastos o CEFISMA arcou com cerca de 70%, a Atlética com cerca de 12% e o resto foi arrecadado com a campanha de financiamento. Porém, tivemos a desastrosa entrada de apenas R$5.940,59 gerando um prejuízo de quase R$11.000,00!”

Esse é o elefante na sala: a Agostina, mesmo com toda sua importância social e política, tem destruído o caixa da entidade que representa todes estudantes da Física. Sem enfrentar esse problema, não conseguiremos construir projetos de médio e longo prazo que demandam grande investimento, como, por exemplo, uma reforma significativa no Amélia. Dinheiro é política e precisamos encarar isso de frente.

Este ano, a situação foi ainda mais pesada. O CEFISMA arcou com todos os gastos e o valor do “morto” superou R$12.000,00, fruto de novas exigências da prefeitura da USP. A única forma de suprir esse déficit é vender nossos produtos — única fonte de renda do CEFISMA e das entidades na festa. Nesse sentido, precisamos melhorar muito.

Gastamos em média o mesmo valor (doze mil reais) na compra de bebidas para vender durante o evento. No entanto, nossa organização não soube prever o impacto da presença de comerciantes externos e, durante a festa, não conseguimos pensar em uma solução para lidar com isso de forma adequada. Esse imprevisto, somado ao amadorismo na organização dos trabalhadores e a burocracia para a venda dos produtos — filas longas tanto para a compra de fichas quanto para retirar as bebidas — resultou em um desempenho muito abaixo do esperado: não conseguimos vender nem metade do que compramos.

Outro ponto delicado é a política de venda de comidas por times e entidades. Enquanto alguns conseguem lucrar bastante, outros arrecadam pouco. Além disso, toda a infraestrutura das barracas — com exceção da Cherateria — foi custeada pelo CEFISMA. Para completar, parte da arrecadação obtida com os produtos financiados pelo CA ainda será repassada aos times. Em suma, tomamos um prejuízo de mais de R$15.000,00 reais.

Aqui, o “somos” é coletivo, não vale apenas para o CEFISMA ou para a Atlética – que tomaram a frente da organização – mas para toda a comunidade do IFUSP. Aqui está o fracasso da Agostina.

Nossa obrigação agora é fazer um balanço político e material sobre tudo de bom e ruim que aconteceu. Não podemos abrir mão da crítica coletiva sobre o processo. Precisamos aprender com os erros e, assim, errar diferente. Por isso, convidamos todes es estudantes independentes, das entidades, dos times, quem trabalhou na festa e quem quiser opinar, a participar da reunião aberta de balanço que ocorrerá na semana que vem. Assim, sairemos dela com um entendimento mais claro de nossos acertos e falhas, bem como com um projeto novo para a próxima Agostina.

A experiência desta edição deixa claro o quanto o amadorismo ainda marca a forma como construímos nossas festas. Não no sentido de falta de dedicação, mas no sentido de ainda não termos uma estrutura coletiva e permanente capaz de sustentar um evento desse porte com tranquilidade. Isso gera sobrecarga, desgastes e improvisos que poderiam ser superados com mais planejamento, partilha de responsabilidades e profissionalização de certas tarefas. A Agostina não deve mais ser organizada apenas pelo CEFISMA e pela AAAGW, mas por toda a comunidade IFUSPiana.

Ao construirmos uma Agostina sustentável a transformaremos em uma ferramenta para fortalecer nossa comunidade também financeiramente.

Sobre o autor: Ely Miranda é doutorando, tesoureiro e militante da UJC e do PCBR

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