Em 2024, ficou de conhecimento geral dos discentes do Instituto de Física que alunos que ingressaram na USP a partir de 2023 teriam que fazer horas de atividades de extensão. Assim, num primeiro momento houve um caos geral entre os que estavam informados e uma urgência para informar os demais. Conforme fomos entendendo melhor como funcionava a questão de horas de extensão, descobrimos que o único curso do IFUSP que teria que ativamente se preocupar com isso era o bacharelado em física. Tanto o bacharelado em física médica quanto a licenciatura em física já tinham embutido horas de extensão nas disciplinas e usado as horas de estágio para conseguir cumprir as horas instituídas pelo MEC – 10% das horas totais. Sobrou para o bacharelado cumprir as suas 260 horas somente através de disciplinas AEX, conforme dita a burocracia uspiana.
Quando a diretoria do IFUSP foi questionada sobre a questão do bacharelado, não assumiu a responsabilidade. Como as disciplinas AEX são oferecidas por diversas unidades da USP, a diretoria nos recomendou fazer nossas horas com atividades de outros institutos. Então, como alunos do bacharelado, entendemos que nós teríamos que resolver a questão.
Pulamos então para 2025, temos, agora, ao menos algumas atividades de extensão oferecidas pelo IFUSP. A título de exemplo, temos a do Show da Física e a de Monitoria em Escolas Públicas, escritas por docentes, e a Escola de Inverno Carmen Lys, co-escrita por alunos do bacharelado. É interessante notar que nenhuma dessas atividades satisfatoriamente acomoda os alunos do noturno nem alunos que trabalham.
Nesse cenário, venho relatar como anda a minha experiência e clamar para que a comunidade ifuspiana tenha uma conversa mais politizada sobre a questão da extensão para o bacharelado.
Da minha experiência, participei de três atividades extensionistas do IFUSP. A primeira delas foi o “USP Escola”, uma atividade que aconteceu do meio de dezembro de 2024 até o final de janeiro de 2025, contabilizando 60h. A atividade em si não foi muito proveitosa para a minha formação e acabou que durante a semana em que aconteceu o USP Escola me cansei muito e senti que não ajudei ou passei meu conhecimento de forma satisfatória. A atividade “USP Escola”, que estava sendo oferecida neste semestre, diminuiu as horas oferecidas.
A segunda delas foi a “Monitoria em Escolas Públicas´”, que aconteceu ao longo de todo o primeiro semestre de 2025, contabilizando 100 horas. Nessa atividade, foi esperado dos inscritos que fossem uma vez por semana dar monitoria de física ou matemática em escolas públicas da região. Na escola em que me alocaram, essas monitorias se resumiram a acompanhar a aula de algum professor e auxiliar com as atividades em sala de aula. Eu, como aluno do bacharelado, não me senti devidamente preparado para ser colocado em uma sala de aula sem nunca antes ter estudado algo de ensino. Ficou durante o semestre inteiro um sentimento de falta de preparo e de sentido no que estava fazendo. Eu não tinha o conhecimento para estar ali, mas precisava desesperadamente das horas. Muitos dos meus colegas de AEX sentiram algo similar.
Por fim, fiz a AEX “Escola de Inverno Carmen Lys”, que ocorreu entre junho e julho de 2025, contabilizando 100 horas. Essa atividade de extensão foi parcialmente idealizada por mim, então senti que tive muito mais controle sobre como melhor usar as habilidades de um bacharel em física dentro da sociedade. Assim, eu junto de mais 59 outros alunos da USP organizamos a escola; desde a divulgação até as notas de aulas dos mini cursos que ministramos. Acredito que fizemos um bom trabalho, dentro do possível. Mas, eu e alguns outros colegas que estavam na coordenação da escola, trabalhamos muito e ficamos absolutamente exaustos.
O problema crônico foi a falta de recursos e de ajuda institucional. Quase sempre que precisávamos da ajuda do Instituto para algo, eles eram pouco solícitos. Conseguimos o tickets para que os participantes da escola pudessem almoçar de forma gratuita e ficou por isso. Não conseguimos um coffee break, somente algumas bolachas que tinha na diretoria. Não conseguimos nenhuma forma de vale transporte para os alunos. Não conseguimos imprimir as notas de aula escritas para entregar para os participantes. Não tivemos verba alguma para conseguir medalhas para o Torneio Carmen Lys – uma das atividades que aconteceu na Escola de Inverno.
Assim, para quem ficou a conta? Ficou para o Cefisma uma parte, outra para doações da Livraria da Física, outra para o HackerSpace e uma parcela caiu para os monitores da atividade. Então, algo que é necessário para a nossa formação – as horas de extensão – teve que ser bancada pelos próprios alunos. Apesar do Instituto ter fornecido algo, que convenhamos nunca seria suficiente, não deveríamos aceitar tão pouco. Não é dever dos alunos, nem das entidades, garantir que uma atividade de extensão seja feita. Não deveria caber aos alunos investir financeiramente para que a atividade seja bem feita.
Quero começar a conversa sobre de quem é a responsabilidade de tocar as atividades extensionistas do bacharelado. Não deveríamos nós termos que pensar em atividades para o noturno, não deveríamos nós termos que idealizar e bancar uma atividade. Mas, se não formos nós e se não colocarmos pressão no instituto, ficamos sem atividades e então sem cumprir as horas. Que possamos fazer da extensão algo útil, que faça sentido para nós e para a sociedade, mas que não nos sobrecarregue.