Física popular e o caminho para a revolução

Eu queria escrever um pouco para extravasar umas ideias que venho pensando desde que entrei para a lic em física na usp. É estranho para mim como existe muita discussão sobre os problemas da Física em geral como profissão, ciência e curso.

Como profissão seja você querendo ser um cientista ou professor tá bem fodido, para cientista as bolsas são ridiculamente baixas, sua pesquisa só vai ter alcance para um grupo seleto de pessoas porque não há investimento da universidade em divulgação e vai ter que trabalhar que nem um condenado, agora se você escolheu a area da licenciatura a perspectiva vai na mesma ou pior, vai ter que enfrentar uma desvalorização financeira absurda, estudar o problemas que nunca vão ser resolvidos e ainda ser desvalorizado dentro do próprio ambiente da física.

Como ciência é mais absurdo não preciso nem falar, o terraplanismo cresce e o Elon Musk é tido como exemplo de astrônomo ou seja estamos bem fodidos.

Como curso é evidente que estamos um lixo, principalmente para os bacharéis, em pleno século 2022 ainda estamos tratando física como um curso opressivo que para aprender tem que sofrer e criar um certo alienamento do mundo, porque aparentemente para as incríveis cabeças das diretorias da USP a física tem que ser um ciencia para os “merecedores” ou para os “gênios”, enfim comportamentos merdas de quem nunca parou para ler um livro de educação ou saiu do apartamento no centro de São Paulo e acredita que todo mundo tem cálculo e aprendeu 2 línguas no ensino médio.

É fácil saber o porque esses problemas são permanentes e não precisamos de nenhum incrivel sociólogo para notar isso, principalmente se a gente tá saindo das periferias. Toda a ciência segue padrões eurocêntricos e burgueses, com o objetivo de ao máximo expulsar todo o tipo de corpo ou pensamento que a burguesia não aprova e isso é mais explícito ainda quando estamos falando de um curso de exatas na USP ou vocês ainda acreditam que o fato das matérias serem absurdamente difíceis e dadas de maneiras muitas vezes porcas que ensinam apenas quem já sabe é por coincidência do acaso? Que a física se comunicar em uma língua extremamente academicista e muitas vezes distante do diálogo popular é sem querer?

Bem, para quem pensa que é tenho uma coisinha para te contar, nenhuma opressão é sem objetivo. Estes problemas que enfrentamos atacam especialmente os estudantes e físicos das classes populares, a física, assim como toda a universidade, foi construída para ser inacessível para os oprimidos. A sua linguagem acadêmica, os professores carrascos, o distanciamento das questões sociais e filosóficas para se aproximar de uma física focada em cálculo, as bolsas a valores baixíssimos, a impossibilidade de acumular bolsas, pesquisador não poder trabalhar, até mesmo o local e o meio de transporte que utilizamos para chegar no instituto foram pensados a fim de excluir toda e qualquer pessoa das margens do capitalismo.Um fato que gosto de ressaltar para evidenciar isso é que quando estou no IF muitas vezes as únicas pessoas que sinto que se comunicam e se comportam de maneira semelhante da minha comunidade são os funcionários, agora deixo para quem ta lendo ter essa reflexão.

E ora, como consequência colhemos os frutos destas ações excludentes que são aplicadas a séculos. Geraram, uma ciência desconectada da sociedade, uma universidade que não existe na sua cidade e cientistas desvalorizados.

E agora meu caro leitor tu vai me falar “ ora bolas, fácil apresentar o problema, mas e a solução ein?” Pois bem, se acalme, mas tenha em mente que não teremos solução alguma se não seguirmos um caminho revolucionário e pautado no acolhimento e abertura da ciência para aqueles que foram excluídos. E agora entramos no assunto que eu quero falar, como fazer uma física acolhedora e revolucionária?

Primeiro quero apresentar o que eu entendo como física, porque preciso para o que vou falar ter algum sentido. Para muitos a física é uma ciência exata, que se preocupa com o calcular objetos e fórmulas, mas não é assim que vejo, logicamente o cálculo é importante para física principalmente para quem trabalha com ela, mas não é e não pode ser a sua base, a física precisa ter como base ,ou retornar a ter, a filosofia, porque antes de ser matemática a física é um questionamento sobre a vida e sobre que caralhos é existir. E é isto que me motiva a estar na física, compreender o que raios é a vida sem apelar para o misticismo, desde as coisas mais simples como a forma que consigo ficar de pé e andar até as mais complexas como a estabilidade dos sistemas gravitacionais e do universo para que a vida seja capaz de existir e buscar o sentido nesta existência humana.

Nós, como físicos, sabemos que não há um sentido mágico em existir, seres humaninhos não são nada além de um acaso do universo e de aglomeração dos átomos, sabemos que o universo surgiu e se extinguirá independentemente do que criamos, produzimos e somos, não há sentido na vida para um físico para além de estar vivo, porque sabemos que enquanto vivos somos os únicos seres capazes de interpretar o universo, somos a única parte do universo capaz de questionar a si mesmo, somos estes seres que ao mesmo tempo que nos sentimos fora da natureza estamos presentes nela e parte dela, ao mesmo tempo que olhamos para o cosmos somos parte dele, nós enquanto vivos somos uma manifestação metafísica do universo, uma manifestação única de um universo com consciência capaz de criar uma linguagem para se interpretar uma linguagem que só faz sentido enquanto seres humaninhos existirem. Para mim isso é física, dar o caminho para construirmos reflexões a partir do que descobrimos sobre o universo e dentro destas reflexões estar presente o cálculo, mas não o cálculo como parte principal.

Agora que contei para vocês, leitores e vozes da minha cabeça, de como eu vejo a física vou mostrar o porque ela tem que ser revolucionária. Como uma interpretação de mundo, uma filosofia que permite às pessoas se questionarem sobre sua existência, logicamente ela foi negada para as classes populares. E neste ponto que foi travada a derrota da física, porque como falei ela só faz sentido para humanos e como físicos não podemos aceitar que ela seja negada para a população, porque se a sociedade não entender o que fazemos e produzimos, se nossas comunidade não entende, se nossa família não entende qual é o sentido da física ? ficar puxando saco de velho branco ranzinza?

A física só supera seus problemas como ciência, curso e profissão a partir do momento que entendermos que ela precisa estar presente na sociedade, para deixar de ser algo assustador para ser parte fundadora da comunidade. Mas para construirmos isso teremos que romper o modo de como a universidade e a sociedade trabalha, precisaremos ter a noção de mudar nossa linguagem, precisamos fazer com que a periferia faça parte das nossas reflexões, precisamos parar de produzir física para apresentar na universidade e passamos a produzir para a sociedade e somente quando os físicos e a população estiverem se comunicando na mesma língua e ocupando os mesmos espaços que poderemos de forma eficiente romper com os nossos problemas e com a caralha do capitalismo que ninguém aguenta mais esta merda.

Esse se trata de um artigo de opinião pessoal escrito pela Dália, estudante do curso de licenciatura em física.

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